Blog de Christy Ganzert Pato

Diálogos em terra arrasada

Arquivo para Contradições e Problemas Inerentes ao Capitalismo

Após fortes perdas com turbulência, GWI fecha fundo de ações

08/10/2008 – 16h35

Após fortes perdas com turbulência, GWI fecha fundo de ações

SÃO PAULO – As fortes perdas com ações fizeram o fundo de ações GWI FIA fechar para aplicações e resgates. Não está descartado também o encerramento do fundo. No ano, a carteira acumula perda de 89,04% até o dia 7 de outubro, enquanto o Índice Bovespa se desvalorizou 37,17% no mesmo período. Só na segunda-feira, quando o Índice Bovespa caiu 5,43%, o fundo teve uma perda de 35,86%. Ontem, mais um tombo: prejuízo de 47,38% ante queda de 4,66% do Ibovespa. As perdas desta semana, inclusive, já fazem a carteira ter retorno inferior ao Ibovespa desde o seu lançamento em 13 de fevereiro de 2004: perda de 23,48%, enquanto o índice tem alta de 74,04% do referencial. Os clientes, inclusive, já receberam fato relevante da gestora.

Segundo o comunicado, o Fundo será fechado a partir desta data para realização de aplicações e resgates. Além disso, foi convocada assembléia de cotistas para o dia 23 deste mês. No encontro os investidores irão decidir pela substituição da administradora, do gestor ou de ambos; reabertura ou manutenção do fechamento do fundo para resgates; e possibilidade do pagamento de resgates em títulos ou valores mobiliários, ou seja, poderá ser encerrado.

Gerenciado pela GWI Asset Management, gestora do coreano Mu Hak You, o desempenho tão abaixo do referencial chama a atenção, já que a carteira sempre apresentou ganhos muito acima do Ibovespa, o que lhe rendeu vários prêmios sobre gestão. Para se ter idéia, em maio, após o Brasil ser considerado grau de investimento e o Ibovespa atingir a marca histórica de 73.516 pontos, o fundo chegou a ter retorno acumulado de 777% desde o lançamento.

O fundo sempre fez muita operação a termo – contratos que estabelecem que um ativo será comprado no futuro por um preço fixado no presente. Para isso, dá como garantia uma parte do valor, que pode ser em ações da carteira. Como o mercado piorou, as operações que haviam sido realizadas no mercado a termo trouxeram fortes prejuízos ao fundo.

(Luciana Monteiro | Valor Econômico, para o Valor Online)

Fundo GWI FIA: jogatina arriscada

São Paulo, terça-feira, 23 de setembro de 2008

Bolsa chama corretoras para discutir risco

Reunião aconteceu após o fundo GWI FIA ter tido problema para cumprir pagamento de garantias na Bolsa paulista

Fundos e corretoras tomaram prejuízo duplo ao apostar na queda da Bolsa e na recuperação do preço de ações de empresas médias

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A BM&FBovespa chamou algumas entidades do mercado para discutir o risco crescente assumido por alguns fundos de investimento e por corretoras independentes, não ligadas a grandes bancos, em meio à forte volatilidade na última semana. Vários desses fundos e corretoras estavam fazendo posições muito alavancadas, seja com dinheiro emprestado, seja com a possibilidade de que eventuais perdas pudessem superar seu patrimônio.
A estratégia desses investidores contrastava com a opção conservadora da maioria dos gestores dos fundos de hedge brasileiros -os multimercados-, que desde agosto priorizam o investimento em títulos pós-fixados e adotaram estratégias para travar perdas.
A reunião aconteceu na quinta-feira, após as perdas de fundos como o GWI FIA, entre outros, que chegou a levar um tombo de mais de 30% em sua cota na véspera. Até a sexta-feira, o fundo tinha perdas acumuladas de 41,18% no mês e de 50,12% no ano.
Esses fundos e suas corretoras teriam tomado prejuízos por conta de duas apostas corriqueiras nos últimos meses, mas que na semana passada se mostraram equivocadas.
Uma das apostas era que as ações de pequenas e médias empresas tinham atingido um preço tão baixo que poderiam ter alguma recuperação nos próximos dias. Por outro lado, como havia uma grande chance dessa hipótese de recuperação não se comprovar, esses mesmos fundos também apostavam na queda da Bolsa.
Por essa estratégia, o equilíbrio entre os dois cenários -recuperação ou aprofundamento da crise- possibilitaria algum ganho, mas limitaria perdas potenciais desses fundos.
Só que a recuperação do mercado na quinta, com a perspectiva de resgate do governo dos EUA aos títulos podres, teve um efeito surpresa: elevou o Ibovespa, rapidamente, mas não recuperou o valor das ações das empresas médias e pequenas.
O resultado foi o pior cenário para esses fundos: perderam tanto na aposta de alta das ações quanto na possibilidade de queda da Bolsa -por isso, as perdas ficaram acima do mercado. Gerido pela GWI Asset, uma gestora independente com sócios sul-coreanos, o fundo GWI FIA teria tido problemas até para depositar margens de garantia que evitam perdas maiores e para emprestar dinheiro de bancos para liquidar suas posições na Bolsa.
Para solucionar o problema, o fundo teve de vender um grande lote de ações da Usiminas, entre outros papéis, que tinha em carteira. O problema foi solucionado na sexta, quando o fundo registrou um ganho de 47,34% -o Ibovespa subiu 9,57% no mesmo dia.
O fundo tem capital de R$ 160,09 milhões e só admite investidores qualificados, com capital mínimo de R$ 250 mil e que estejam dispostos a esperar por um período de dois anos para fazer saques.
Procurados pela Folha, a BMF Bovespa afirmou que não comenta assuntos ligados à liquidação de contratos. A GWI Asset e o Mellon BNY, administrador do fundo GWI, preferiram não se manifestar sobre o problema na Bolsa.

Trabalhadoras usam fraldas por não poderem ir ao banheiro no Chile

Folha Online

02/05/200723h01

Trabalhadoras usam fraldas por não poderem ir ao banheiro no Chile

da Efe, em Santiago

A Central Unitária de Trabalhadores do Chile denunciou nesta quarta-feira que operadoras de caixa de uma rede de supermercados do país foram obrigadas a usar fraldas por não disporem de pausas para ir ao banheiro.

A acusação foi refutada hoje pela holding chilena Cencosud, ao qual pertencem os estabelecimentos.

A vice-presidente da associação, Maria Rozas, denunciou graves irregularidades trabalhistas nos supermercados Santa Isabel, e assegurou que “as mulheres são obrigadas a trabalhar durante nove horas nos caixas, sem poder se movimentar”.

“Muitas delas precisam usar fraldas descartáveis para agüentar o tempo sem ir ao banheiro”, acrescentou. Rojas convocou os cidadãos de todo o Chile a boicotar a cadeia de supermercados.

A presidente da Comissão do Trabalho da Câmara dos Deputados chilena, Ximena Vidal, ratificou a denúncia, e assinalou que “a Constituição chilena defende todas as pessoas, para que casos como este não ocorram”.

“Realmente, é uma vergonha que essa proteção não seja cumprida”, criticou.

A empresa Cencosud refutou hoje as acusações, e assegurou que “sob nenhuma circunstância” infringe as normas trabalhistas do Chile.

“Nunca recebemos uma reclamação formal falando que as operadoras de caixa dos supermercados Santa Isabel têm que usar fraldas diante da impossibilidade de ir ao banheiro”, assinala o texto.

“As políticas de trabalho dos supermercados Santa Isabel são claras e estritas, respeitando sempre as leis trabalhistas e as horas de descanso estabelecidas pela Lei trabalhista”, acrescenta.

Títulos brasileiros serão aceitos como garantia pelo BC dos EUA

São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2008

Títulos brasileiros serão aceitos como garantia pelo BC dos EUA

SHEILA D’AMORIM
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O medo de que a falência do Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimento dos EUA, venha a desencadear uma onda de quebras generalizadas no setor financeiro norte-americano fez o Fed (o banco central norte-americano) diminuir as exigências na concessão de empréstimos para bancos com problemas. Isso permitirá que títulos brasileiros entrem nessa negociação pela primeira vez.
Quem precisar recorrer às linhas de socorro do Fed poderá dar como garantia títulos de menor liquidez e também os que têm o selo de grau de investimento. Até então, o Fed só aceitava como garantia papéis de primeiríssima linha, entre eles os classificados de AAA pelas agências internacionais de risco e os títulos domésticos do mercado hipotecário.
A decisão poderá fazer com que ocorra uma situação inusitada: instituições financeiras norte-americanas poderão pegar dinheiro emprestado com o Fed dando como garantia do pagamento títulos do governo que já são considerados grau de investimento e de empresas brasileiras que tenham o selo.
Os detalhes da decisão do Fed, como o montante desses novos papéis que passarão a ser aceitos, deverão ser anunciados hoje. Inicialmente, sabe-se que as garantias exigidas para uma das linhas de redesconto seguirá o padrão adotado pelas duas maiores instituições custodiantes do mercado.
O JPMorgan e o Bank of New York são tradicionalmente referência nessa área, o que levantou no mercado a possibilidade de que sejam usadas até ações nas negociações de empréstimos com o Fed.
A interpretação do comunicado do BC dos EUA é que ele está preocupado com o impacto que a quebra do Lehman terá em instituições que tinham negócios com os bancos e, sobretudo, com os custodiantes -responsáveis em última instância pela operação- que atuam no mercado e vendiam papéis e operações estruturadas incluindo o banco de investimento.

New York Times critica as falácias da ideologia anti-regulatória

New York Times
Editorial

Wall Street Casualties

Published: September 15, 2008

It is oddly reassuring that the Treasury Department and Federal Reserve let Lehman Brothers fail, did not subsidize the distress sale of Merrill Lynch to Bank of America, and tried to line up loans for the American International Group, the troubled insurer, rather than making a loan themselves. Government intervention would have been seen either as a sign of extreme peril in the global financial system or of extreme weakness on the part of federal regulators.

Instead, the dizzying events on Wall Street suggest that the system may be strong enough to absorb the downfall of Lehman and Merrill — though the chaos at A.I.G. seems harder to swallow. However, the stock market’s initial reaction — a brutal drop, but not a Black Monday-style sell-off — offered a ray of hope that the disruptions may be manageable. And, more important, barring the risk of cascading failures, regulators finally seem willing to hold Wall Street accountable for its mistakes.

Lehman’s bankruptcy filing may even provide much-needed transparency to a financial system that has been hamstrung for more than a year by a lack of good information — on who owns what and who owes how much and to whom. Lehman’s creditors and other firms involved in its trades will now have to line up in bankruptcy court, detailing their positions for all to see — and learn from. That did not happen in the spring when the Fed prevented a bankruptcy filing from Bear Stearns to avoid what it said would have been a systemwide failure.

Still, the disappearance in one weekend of two icons of American capitalism has negative repercussions, for taxpayers and for the economy.

The Fed has broadened yet again its emergency-loan programs for Wall Street banks, agreeing to take risky and poor quality collateral, like junk bonds. That puts taxpayers at ever greater risk. Remember, the Federal Reserve already put the taxpayers on the hook by offering $29 billion in guarantees to quell the Bear crisis in March. This month, the Treasury Department pledged to make good if need be on trillions of dollars of obligations of Fannie Mae and Freddie Mac.

In addition to the sheer size of the government’s commitments, the weakening economy is upping the odds that taxpayers will be footing the bill for the wipeout on Wall Street. As job losses have risen inexorably this year, foreclosures hit another record high in August — 304,000 homes in some stage of default and 91,000 families losing their homes, according to RealtyTrac, an online marketer of foreclosed properties.

As long as foreclosures continue, housing prices will continue to decline and banks and other financial firms will continue to suffer losses. Continuing losses, in turn, could force more taxpayer bailouts, by reigniting fears that ongoing failures may threaten the entire financial system. Preventing foreclosures is the key to stanching the crisis, but policy makers have been unconscionably slow to address that aspect of the crisis.

It will require political will, but is not too late to try to decrease foreclosures by allowing homeowners to restructure their unaffordable mortgages in bankruptcy court. It is also not too late to stimulate the economy with intelligent government support, like aid to state and local governments, rather than campaign-year gestures like the tax rebates for virtually everyone that dominated the first stimulus package.

And it is certainly not too soon to look beyond the current crisis to the flaws and fallacies of the anti-regulatory ideology that has held Washington in its grip since the Reagan years and allowed the financial excesses that are now stressing the system to the breaking point.

Making and enforcing new rules is necessary, but that will not be enough. The nation needs a new perspective on the markets, one that acknowledges the self-destructive bent of unfettered capitalism and its ability, unchecked, to wreak havoc far beyond Wall Street.

Falha “geológica” expõe sistema frágil

São Paulo, terça-feira, 16 de setembro de 2008

Falha “geológica” expõe sistema frágil

Abalo sísmico no mercado financeiro revela como o setor construi inovações e se expandiu em bases inconsistentes

Operações da banca privada sem fiscalização oficial ruem e dificultam avaliação exata das perdas, necessária para controlar colapso

GILLIAN TETT
DO “FINANCIAL TIMES”

Nesta década, o sistema financeiro ocidental parece uma cidade do Terceiro Mundo, construída sobre uma falha geológica e crescendo em ritmo acelerado. Em teoria, seus bem remunerados habitantes sempre souberam que um grande terremoto era possível e chegaram até ocasionalmente a olhar através da lama para verificar as fundações dos edifícios.
Mas a maior parte dos financistas estava tão ocupada com a expansão de seus negócios que essas verificações de segurança em geral foram perfunctórias. E as pessoas pagas para monitorar as fundações -as autoridades regulatórias- encontraram dificuldades para realizar a tarefa em meio à neblina que o frenesi de construção e inovação do setor fazia levantar.
Agora, porém, o terremoto chegou, e com uma violência que poucos esperavam. E à medida que nomes como o do Lehman Brothers desabam numa nuvem de poeira, torna-se chocantemente óbvio até que ponto eram frágeis algumas das fundações das finanças modernas, tendo em conta as vastas atividades que sustentavam.
Em retrospecto, por exemplo, hoje parece loucura que as autoridades tenham um dia permitido a uma instituição como o Lehman operar nos últimos anos com nível de alavancagem de 35 vezes ou mais seu capital. Afinal, com tamanhas dívidas empilhadas numa base minúscula de capital, não é necessária uma grande deterioração nos preços dos ativos para causar pânico.
Mas ficou também dolorosamente evidente que a infra-estrutura logística que sustenta o moderno sistema financeiro é preocupantemente instável em parte porque foi montada ao improviso, por diversos protagonistas do setor privado.
Tomem por exemplo o mercado de CDS (“credit default swaps”), que movimenta US$ 62 bilhões. Grupos como a ISDA (Associação Internacional de Swaps e Derivativos) vêm trabalhando incansavelmente nos últimos anos para criar contratos legais que estipulem o que acontece quando a contraparte num contrato de CDS quebra. E nas últimas 48 horas a ISDA vem trabalhando com o Fed de Nova York a fim de implementar esses procedimentos no caso do Lehman.
Mas ainda não está claro, e isso é muito grave, se essas medidas bastarão para compensar o pânico. O mercado de derivativos se baseia em contratos privados e bilaterais que podem variar em termos de detalhes. Muitos bancos não têm recursos para enfrentar as dificuldades logísticas da liquidação de uma montanha de transações.
Na melhor das hipóteses, isso significa que o mundo do crédito poderia agora enfrentar semanas de incerteza; na pior, alguns mercados poderiam se congelar, criando reações em cadeia e tornando ainda mais difícil estabelecer o valor dos ativos de crédito problemáticos, no Lehman e outros.
Não surpreende que siga existindo incerteza quanto ao escopo exato dos ativos tóxicos do Lehman (as estimativas vão de US$ 40 bilhões a US$ 80 bilhões). Nem que as autoridades regulatórias agora lamentem seu fracasso em reforçar as fundações do setor de derivativos negociados privadamente.
É justo apontar que os bancos haviam criado planos, recentemente, para enxugar os contratos CDS e colocar essas atividades em uma Bolsa regulamentada, em lugar de depender de transações privadas bilaterais, sem fiscalização oficial. Mas essas reformas sensatas não se materializaram ainda, e já se tornaram necessárias, o que explica a corrosiva sensação de incerteza.
A boa notícia, claro, é que os acontecimentos estão acelerando o processo de reforma e forçando bancos e corretoras a considerar essas questões seriamente. Caso o sistema de derivativos consiga cambalear até a semana que vem sem congelar, no futuro ele parecerá mais confiável.
Ainda mais importante, as quebras e as fusões estão removendo parte da capacidade excedente e da alavancagem que vinham prejudicando o sistema financeiro. Essa é uma precondição essencial para a recuperação. De fato, existe uma boa chance de que, quando os historiadores narrarem a história, retratem a implosão do Lehman como o ponto mais baixo do grande choque do crédito em 2007/8.
No entanto, antes que uma verdadeira recuperação possa começar, há ainda um desdobramento necessário: os investidores têm de começar a crer que preços genuínos de liquidação surgiram para os ativos tóxicos que residem nas carteiras do Lehman e de outros.
E, embora os acontecimento possam acelerar essa limpeza, o momento crucial ainda não chegou em larga escala. Restam muita incerteza e opacidade.
Aguardem novos choques. Talvez ainda precisemos de muitos meses antes que os destroços de uma década de exageros financeiros sejam removidos.

EUA preparam ajuda a mais um banco

São Paulo, sexta-feira, 12 de setembro de 2008

EUA preparam ajuda a mais um banco

Expectativa é que venda do Lehman Brothers, em crise aguda, tenha ajuda estatal e seja anunciada no final de semana

Resgate montado pelo governo americano atrairá “interessados em bando”, diz o “WSJ’; BofA e HSBC estão entre os cogitados

Kevin Coombs/Reuters

Funcionários no escritório do Lehman Brothers em Londres; governo dos EUA estaria preparando venda do banco de investimento

DA REDAÇÃO

O governo americano prepara o resgate do Lehman Brothers, o quarto maior banco de investimento dos EUA, negociando sua venda para um consórcio formado por várias instituições privadas, disse ontem o jornal “Washington Post”.
Os detalhes do acordo ainda não foram finalizados, mas a expectativa é que ele seja anunciado neste final de semana.
Em março, o Departamento do Tesouro e o Fed (o BC dos EUA) montaram a venda do Bear Stearns para o JPMorgan, mas, segundo o “Wall Street Journal”, a ajuda governamental ao Lehman não seria nos mesmos moldes. No domingo passado, o governo lançou um pacote de ajuda que pode chegar a US$ 200 bilhões para resgatar Fannie Mae e Freddie Mac, as duas gigantes do mercado de hipotecas.
Além da ajuda do governo, o Lehman Brothers já está negociando com várias instituições a sua venda, segundo fontes envolvidas nas negociações. O Bank of America, o HSBC e outros bancos estrangeiros estariam entre os interessados.
Anteontem, o Lehman disse que desejava negociar a maior parte da sua divisão de gerenciamento de investimentos, mas a necessidade de vender toda a instituição se intensificou depois que as suas ações caíram ontem 41,79%. Apenas nesta semana, os papéis do banco se desvalorizaram em 73,95%. Segundo a agência Moody’s, ele precisa encontrar “um forte parceiro financeiro”. Bancos de investimento são instituições especializadas em operações como aquisição de títulos e não atuam no varejo.
Apesar de as ações do Lehman registrarem mais um dia de forte baixa, foi a notícia do possível negócio que mudou o rumo das Bolsas americanas. Os mercados abriram o pregão com queda expressiva e se recuperaram durante o dia, mas, após a notícia, a valorização se intensificou ainda mais. O índice Dow Jones, o principal da Bolsa de Nova York, subiu 1,46%, e o S&P 500, 1,38%.
Várias instituições já começaram a analisar ontem o balanço do Lehman Brothers, mas não está claro ainda quais estariam realmente interessadas. Porém, os possíveis compradores estão preocupados com os prejuízos do banco e estariam interessados no auxílio do governo para cobrir futuras perdas -como aconteceu na venda do Bear Stearns.
Segundo o “Wall Street Journal”, interessados “aparecerão em bando”, caso o governo dos EUA intervenha no negócio. O jornal afirma ainda que o Bank of America (BofA) já está discutindo preliminarmente com o Lehman Brothers e que parece ser, no momento, a principal esperança para um negócio sair. Só que o BofA recentemente adquiriu a Countrywide Financial (a financiadora de hipotecas que foi uma das abatidas pela atual crise) e provavelmente precisará de ajuda federal para realizar o negócio.
Além disso, as negociações ainda estão no início e por isso, diz o “Wall Street Journal”, é cedo para dizer que tipo de negócio será realizado -caso realmente um acordo seja feito.

Pressões
Mas, se as ações continuarem caindo, crescerão as pressões para que o Lehman finalize logo um acordo, dizem analistas. Uma das vantagens do banco em relação ao Bear Stearns é que, após a venda do rival, o Fed lançou um programa de crédito para bancos de investimento.
Analistas afirmam que os britânicos HSBC e Barclays e o japonês Nomura podem também estar entre os interessados. Um porta-voz do HSBC disse que é “altamente improvável” que o banco entre na disputa pelo Lehman Brothers, que perdeu US$ 6,7 bilhões entre o segundo e o terceiro trimestres fiscais. O prejuízo de US$ 3,9 bilhões no terceiro trimestre foi o maior nos 158 anos do banco.
Anteontem, o presidente-executivo do Lehman Brothers, Richard Fuld, não descartou a venda do banco. “Eu sempre disse que, se alguém aparecer com uma oferta atrativa, ela será levada para o conselho para ser avaliada, e isso não mudou.”

Mercado em Pânico

São Paulo, quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Analista vê “pânico” no mercado americano

DA REDAÇÃO

As persistentes preocupações com os bancos e com o mercado imobiliário dos EUA retiraram das Bolsas, pelo menos ontem, o fôlego do plano de socorro do governo americano para as duas grandes empresas de financiamento imobiliário, a Fannie Mae e a Freddie Mac. Além disso, a queda no preço do petróleo elevou o temor de desaceleração global.
Com as ações de bancos registrando os maiores recuos, o índice Dow Jones, o principal da Bolsa de Nova York, caiu 280,01 pontos (queda de 2,43%) e perdeu praticamente todos os ganhos do dia anterior, quando avançou 289,78 pontos. Já o S&P 500 (mais amplo, que reúne 500 grandes empresas americanas) se desvalorizou em 3,41%, a maior queda desde fevereiro de 2007.
As ações do Lehman Brothers caíram 44,95% e atingiram seu menor nível desde 1998, com o rumor de que fracassaram as negociações com o banco de desenvolvimento do governo sul-coreano para comprar uma parte da instituição.
Com as pressões, o banco antecipou para hoje o balanço do terceiro trimestre fiscal -marcado anteriormente para semana que vem- e disse que anunciará “medidas estratégicas importantes”. Estima-se que o banco terá perdas de até US$ 4 bilhões no trimestre.
Desde que o Bear Stearns foi adquirido pelo JPMorgan, no fim de março, o Lehman Brothers (que perdeu US$ 2,8 bilhões no segundo trimestre) é constantemente apontado como a próxima instituição a cair.
Mas a preocupação não ficou restrita ao Lehman Brothers, com as ações de outros bancos, como Washington Mutual, Wachovia e Citigroup, tendo quedas expressivas.
“As pessoas estão correndo em busca de segurança”, disse Frank Ingarra, gerente de portfólio da Hennessy Advisors. “É simplesmente pânico. Todo mundo está com medo de ser pego em uma situação como a de um Bear Stearns.”
Analistas aprovam a ajuda do governo, mas afirmam que muitos problemas da economia não foram contemplados no plano de resgate. “Voltamos mais uma vez aos fundamentos [econômicos]”, disse Denis Amato, da Ancora Advisors.
Segundo ele, o plano de socorro do governo Bush “não cria prosperidade”. “Só porque você fez algumas mudanças financeiras não significa que a economia ficará melhor de uma hora para outra.”
Para Phil Orlando, da Federated Investors, existe um temor crescente de que a ajuda a Fannie Mae e Freddie Mac “não resolve o aperto no crédito, não cria empregos, não soluciona o gasto do consumidor. Existem questões estruturais e de fundamentos econômicos que continuam e vão levar de 12 a 18 meses até que esses problemas fiquem para trás”.
Já o setor imobiliário (epicentro da crise atual) sofreu mais um abalo, com as vendas pendentes de casas recuando mais que o esperado. A comercialização dessas residências (que é quando o vendedor aceitou a oferta, mas o negócio não foi ainda fechado) caiu 3,2% em julho ante o mês anterior -o recuo em 12 meses é de 6,8%. A Associação Nacional de Corretores disse ainda que a venda de casas nos EUA caminha para cair 11% neste ano.
O setor petrolífero também teve as suas ações afetadas, com a queda do preço do barril e a expectativa de que a Opep (cartel que produz 40% da oferta mundial) mantivesse a sua produção. Companhias como Valero, ExxonMobil e Chevron tiveram recuos expressivos.
Também ontem o Escritório de Orçamento do Congresso elevou em US$ 20 bilhões, para US$ 407 bilhões, a sua estimativa de déficit federal dos EUA no atual ano fiscal (que termina neste mês). A entidade, porém, ressalta que o cálculo não leva em conta o socorro a Fannie Mae e Freddie Mac.

Brasil já possui 220 mil milionários, diz pesquisa

São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2008

Brasil já possui 220 mil milionários, diz pesquisa

Há dois anos, brasileiros com fortuna superior a US$ 1 milhão eram 130 mil

Valor total das fortunas no mundo chega a US$ 109,5 tri, quantia abaixo da esperada devido à crise financeira; brasileiros têm US$ 1,2 tri

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil está entre os países em que o número de milionários mais cresce. Estimativas do BCG (The Boston Consulting) indicam que 220 mil brasileiros detêm, juntos, US$ 1,2 trilhão aplicado no mercado financeiro. Para fazer parte desse time, é preciso ter investido pelo menos US$ 1 milhão. Há dois anos, os brasileiros formavam grupo de 130 mil integrantes com US$ 1,1 trilhão.
No ano passado, o Brasil chamou a atenção dos pesquisadores do BCG, que registraram um acréscimo de 60 mil novos participantes, aumentando a lista nacional de milionários para 190 mil. Por isso, uma equipe do BCG veio ao país especialmente para fazer um levantamento local. O estudo ainda não foi publicado, mas estima-se que os números deverão acompanhar o crescimento registrado nos anos anteriores, em torno de 16%.
Segundo o relatório, divulgado ontem nos Estados Unidos, as fortunas mundiais, incluindo as dos brasileiros, cresceram 3% menos que o esperado devido à crise financeira nos EUA. Mas os números indicam que esses afortunados tornaram-se ainda mais ricos.
A soma de suas riquezas atingiu a marca de US$ 109,5 trilhões, uma alta de 4,9% em relação ao ano passado. Os milionários da América do Norte (EUA e Canadá) lideram essa lista, com US$ 39,2 trilhões; seguidos pela Europa, com US$ 38,3 trilhões; Ásia (considerando o Japão), com US$ 25,6 trilhões; Oriente Médio e África, com US$ 3,4 trilhões; e América Latina, com US$ 3,1 trilhões.
Isoladamente, os EUA são os líderes mundiais, com 4,9 milhões de pessoas com mais de US$ 1 milhão. Desse total, 674 mil têm mais de US$ 5 milhões. Na Ásia, 900 mil japoneses detêm metade da fortuna da região. Desses, 71 mil têm mais de US$ 5 milhões.
Na América Latina, não é diferente. Os brasileiros mais ricos detêm 37% das fortunas da região. Os mexicanos vêm em seguida, com 23%, o equivalente a US$ 714 bilhões.
O que explica o aumento acelerado das riquezas no Brasil foi o grande número de IPOs (Ofertas Iniciais de Ações) nos últimos dois anos. Segundo o BCG, a maior parte das empresas que abriram o capital pertencia a grupos familiares que, rapidamente, transformaram parte de suas empresas em dinheiro vivo para investir. Os negócios que mais fizeram milionários estão ligados a agropecuária, petróleo e minérios.
No rastro desse crescimento, o mercado de luxo no país cresce 17% ao ano, descontando a inflação, o que significa ritmo três vezes superior ao da economia do país. A expansão vem se mantendo nos últimos quatro anos e, segundo estudos internacionais, seguirá até 2013.
A fila de milionários aguardando artigos sofisticados, que vão de bolsas e sapatos, passando por jóias e aviões executivos, já chega a 18 meses em alguns casos. Bancos nacionais e estrangeiros que atendem essa classe já lucram mais que as instituições similares que atuam com os milionários nos EUA, na Europa e no Japão.

PAUL KRUGMAN – Reservas escassas de recursos podem travar expansão global

São Paulo, terça-feira, 22 de abril de 2008

ARTIGO

Reservas escassas de recursos podem travar expansão global

Estoques baixos indicam que era das commodities baratas acabou para sempre

PAUL KRUGMAN
DO “NEW YORK TIMES”

NOVE ANOS atrás, a “Economist” publicou grande reportagem sobre o petróleo, que na época era vendido por US$ 10 o barril. A revista avisou que essa situação poderia não durar muito tempo. Sugeriu que, em lugar disso, o preço poderia cair para US$ 5.
De qualquer maneira, disse a revista, o mundo “está diante da perspectiva de petróleo em abundância e a preço baixo durante o futuro previsível”.
Na semana passada, o preço do barril chegou a US$ 117. Não se trata só de dizer que o petróleo desmentiu a complacência de alguns anos atrás. Os preços dos alimentos também subiram, assim como os de metais básicos. E o aumento mundial nos preços dos commodities está trazendo de volta pergunta que não ouvíamos com freqüência desde os anos 1970: as reservas limitadas de recursos naturais vão representar um obstáculo ao crescimento econômico futuro do mundo?
A resposta que se dá a essa pergunta depende em grande medida do que se acredita que esteja motivando a alta nos preços dos recursos. Há três pontos de vista distintos sobre isso.
O primeiro diz que a razão principal é a especulação: que os investidores, interessados em obter retornos altos num período de juros baixos, investiram pesado em futuros de commodities, gerando alta nos preços. Segundo essa visão, a bolha deve se romper em algum momento não distante.
A segunda explicação é que os preços crescentes dos recursos devem-se a questões fundamentais -especialmente à demanda dos chineses-, mas que, com o tempo, vamos perfurar mais poços, plantar mais hectares, e o aumento da oferta reduzirá os preços outra vez.
O terceiro ponto de vista reza que a era das commodities baratas acabou para sempre -que estão se esgotando o petróleo, a terra na qual ampliar a produção de alimentos e, de modo geral, as reservas exploráveis do planeta.
Minha opinião fica em algum lugar entre a segunda e a terceira explicações. Algumas pessoas inteligentes -entre as quais George Soros- pensam que vivemos uma bolha de commodities. A objeção que faço a esse argumento é: onde estão os estoques?
Normalmente, a especulação empurra os preços dos commodities para cima, motivando o armazenamento deles. Mas não se vêem sinais desse armazenamento: os estoques de alimentos e metais encontram-se em seus níveis historicamente mais baixos e os de petróleo estão apenas normais.
O melhor argumento em defesa da segunda explicação, a de que o arrocho dos commodities é real, mas temporário, está na semelhança entre o que estamos vendo hoje e a crise dos recursos vivida nos anos 1970.
O que os americanos mais recordam sobre a década de 1970 são a alta dos preços do petróleo e as filas nos postos de combustíveis. Mas também houve grave crise global de alimentos, que provocou dor nas filas dos caixas dos supermercados e ajudou a causar períodos devastadores de fome generalizada em países mais pobres.
Olhando em retrospectiva, o boom de commodities de 1972-75 foi provavelmente fruto do rápido crescimento mundial, que superou a oferta, aliado aos efeitos de problemas climáticos e do conflito do Oriente Médio. O período difícil chegou ao fim, novas extensões de terra começaram a ser cultivadas, fontes de petróleo foram encontradas no golfo do México e no mar do Norte, e os recursos voltaram a custar pouco.
Desta vez, porém, pode ser diferente. As preocupações sobre o que acontece quando uma economia global em constante crescimento se choca com os limites de um planeta finito soam mais próximas da verdade hoje do que nos anos 1970.
Para começar, não prevejo que o crescimento da China vá diminuir no futuro próximo. É um contraste grande com o que aconteceu nos anos 1970, quando o crescimento no Japão e na Europa, os emergentes da época, diminuiu, aliviando a pressão sobre os recursos.
Enquanto isso, está se tornando mais difícil encontrar recursos. As grandes descobertas petrolíferas, em especial, passaram a ser poucas e raras.
E o mau tempo que prejudica a produção agrícola desta vez está começando a configurar-se como algo mais fundamental e permanente que o El Niño e La Niña, que prejudicaram as plantações 35 anos atrás. A Austrália passa pelo décimo ano de estiagem que, cada vez mais, parece constituir-se numa manifestação de mudanças climáticas de longo prazo.
Suponhamos que estejamos de fato topando com os limites do planeta. O que isso significa?
Mesmo que se verifique que de fato chegamos ao pico da produção petrolífera mundial, ou quase, isso não quer dizer que um dia digamos “oh, meu Deus! O petróleo acaba de se esgotar!” e assistamos à civilização desabar em anarquia ao estilo “Mad Max”.
Mas os países ricos vão enfrentar a pressão constante da alta dos preços das commodities sobre suas economias, dificultando a elevação de seu padrão de vida. E alguns países pobres passarão a viver perigosamente perto do abismo -ou cairão nele.
Não olhe agora, mas é possível que os bons tempos tenham ficado para trás.


PAUL KRUGMAN , economista, é colunista do “New York Times” e professor na Universidade Princeton (EUA).

Tradução de CLARA ALLAIN